Uma tragédia sanitária para a história do século XXI
O planeta tem os seus ciclos naturais e outros forçados.
As pandemias farão parte dos seus ciclos naturais, embora a saúde do planeta esteja a ficar cada vez mais afectada pelos "crimes ambientais" que desde a Revolução Industrial têm vindo a ser praticados.....com consequências acumuladas e já bem visíveis.
As temperaturas vão subindo, seja a nível ambiental, seja a nível social.
Sandro Pereira/Estadão Conteúdo
Vazamento de petróleo do navio Prestige (2002). Foto: Adela Leiro [CC-BY-SA-3.0], via Wikimedia Commons
A cartilha neo-liberal da austeridade eterna tenta ser aplicada na maioria dos países. Cartilha que já não é exclusivo das direitas habituais, pois também as extrema-direitas afinam pelo mesmo diapasão, pelo mundo fora.
Destruição do Estado social, das legislações laborais, privatizações selvagens, sem limites, e mesmo destruição dos sectores estratégicos nacionais, fundamentais ao controlo de qualquer economia, do ponto de vista da sua soberania.
São os "vende-pátrias" e os selvagens do mercado desregulado, bem diferentes dos integralistas nacionalistas do século passado que davam primazia ao mercado interno e aos interesses das burguesias nacionais, contra as classes trabalhadoras. Há pois uma convergência sintonizada entre todas as direitas que se juntam às extrema-direitas nessa ofensiva destruidora, vendidos ao capital financeiro internacional.
Também a pandemia tem o seu pendor ideológico na forma como os estados cuidam das suas populações, ou não.
O mercado dos medicamentos e das farmacêuticas já aplicam a sua lógica capitalista nos preços e na própria distribuição geográfica como é do conhecimento geral. Basta ver a percentagem de vacinados nos vários países não europeus e comparar com a percentagem na Europa e EUA.
Se na Europa existe uma preocupação com a vacinação generalizada, e agora também nos EUA, ultrapassada que foi a fase selvática da administração Trump, países existem onde a tragédia não pára de aumentar......é o caso do nosso país irmão, o Brasil, entre outros.
Com um governo e um presidente de extrema-direita, os crimes na gestão da questão pandémica, entre outros, têm-se sucedido, sendo previsível, segundo os especialistas, atingir-se este ano um milhão de mortos por Covid19.
Em reunião recente com um político da esquerda brasileira, Valter Pomar foi possível aceder a alguns números dessa tragédia, pandémica e social.
Média de mortes por dia devido a Covid19 em 2020......................................672 pessoas
Média de mortes por dia desde 1 de Janeiro, por Covid19.............................1703 pessoas
Média de mortes só em Abril de 2021..............................................................2777 pessoas/dia
38 milhões de desempregados com imensa dificuldade extrema de sobrevivência
19 milhões de pessoas passam fome
116 milhões de pessoas com "insegurança alimentar" (grandes deficiências alimentares)
Estas realidades não permitem praticar o isolamento social requerido para estancar a propagação da pendemia
Em Abril estavam no limiar de se chegar aos 600 mil mortes.
A realidade brasileira pauta-se por alguns dados que importa reter.
- cerca de 6000 oficiais das forças armadas foram colocados no aparelho de estado, incluindo a área da saúde
- há dezenas de processos na justiça contra Luis Inácio Lula da Silva, numa perseguição atroz (Lawfare)
- Bolsonaro teve cerca de 57 milhões de votos favoráveis nas últimas presidenciais, hoje, pelas songagens feitas teria 40 milhões
- cerca de 40 milhões de eleitores não foram votar nas últimas presidenciais
- o que é colocado pela esquerda, que é diversa, no Brasil é que há que derrubar ou derrotar este governo e este presidente. A questão que se discute é o timing, e a alteração da correlação de forças para isso.
- Lula readquiriu os seus direitos políticos no dia 8 de Março, com a anulação do julgamento/condenação-farsa de Moro, que o condenou. Anulação do Supremo Tribunal Federal.
- Se as eleições fossem hoje, segundo as sondagens a vitória seria de Lula. A "direita gourmet" e a extrema-direita irão convergir de novo para reeleger o candidato neo-fascista? É o que veremos.
(foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula/Divulgação)
É neste quadro, aterrador, que as direitas europeias e as extrema-direitas se reúnem num encontro chamado de "Europa Livre"....
Resta saber, livre, de quê? De humanidade, de sentido social, de futuro para as novas gerações, de democracia, de direitos, de vida. Eles estão preparando a ofensiva contra os diversos povos. Os exemplos do trumpismo e do bolsonarismo já são uma realidade em alguns países europeus, como a Polónia, a Hungria, para falar só nestes dois....
Preparar a resposta para a defesa da República, da democracia, dos direitos, da saúde pública e universal, dos serviços públicos, do sistema de pensões, da educação publica e universal, da liberdade religiosa, pois é tudo isso que iria estar destruído caso essa gente chegasse à governação do país.
Torna-se obrigatório, sem tibiezas, nem calculos eleitoralistas de marketing duvidoso, centrar a governação às esquerdas, numa confluência cada vez mais necessária no combate à corrupção, na reforma da justiça, na baixa das custas judiciais, na revogação da legislação laboral dos infames anos da troika, reforçar a saúde, SNS, a educação pública, actualizações das pensões, subida do salãrio minimo, significativamente, redução do horário de trabalho, investimentos públicos em habitação social, e na ferrovia, num plano nacional de mobilidade e cidades.
Deslitoralizar o país e fazer a regionalização, mobilizando as populações, activamente, para este programa de emergência nacional social de combate à crise e incentico à economia, num crecimento eco-sustentado, debelando a pandemia com a necessária campanha de vacinação, são desígnios que só uma governação confluente à esquerda poderá conduzir e realizar.
Queremos, sim, um país e uma Europa Livres da selva austeritária, livre de desemprego e de pobreza, livre de crimes ambientais e de corrupção, mas com direitos, com saúde com o direito ao descanso dos reformados, em condições dignas e saudáveis. Com futuro para a juventude. Defender e aprofundar direitos sociais e civis, deverá estar na agenda, a par com o desenvolvimento económico. Isto só pode ser garantido à esquerda. Que ninguém se engane nessa questão ou com o cantar dos cisnes direitistas travestidos de democratas. Eles só defendem a oligarquia económica.......nada mais.
Vamos pensar como o vamos conseguir concretizar? Que cada um cumpra a sua parte.
Primavera de 2021
Francisco Colaço
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